O velho aparava o cabelo na barbearia do
shopping. Na televisão presa à parede, desfilavam imagens sombrias da invasão
do palácio presidencial.
- Essa
agitação não é o problema. O meu medo é o que vão fazer com a Amazônia.
- Medo de
quê, coronel?
- Dar a
Amazônia pros americanos, tudo bem... São democratas...
O barbeiro
solta um grasnido neutro enquanto finaliza o corte.
- Mas... E
se entregarem aquilo tudo pros chineses? Ou pros russos?
-
Prontinho! Tá bem assim? - diz o barbeiro, movendo um espelho atrás da cabeça
do cliente de olhos agoniados.
- Onde foi a Eneida?
- Ali na
farmácia.
- O que
vai ser da nossa liberdade? Liberdade é tudo - pondera, angustiado, o militar.
O barbeiro
contemporiza:
- Ela disse que voltava logo
pra acomodar o senhor na cadeira de rodas.
- Miguel da Costa Franco -
Texto publicado na Revista Parêntese, de 21/01/2023
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