segunda-feira, 29 de março de 2010

Shirlei queria acabar co'Mig


Texto publicado no Pasquim Sul, em 13.08.87


Ela tinha um vozeirão. Quando me disse oi, Dona maria fez shhh. Lá do térreo. Não liguei, conheço a velha. Mas respondi baixinho:
- Entra! - bem baixinho.
- Tá rouco? - gritou ela.
- Não, baby, louco. Eu estou é louco.
Falei babando, os olhos em risco. As mãos cravadas no saco. Ela recuou mas riu. Eu relaxei. Conheço as minas: essa estava no papo. Sou rápido. Muito rápido. Até no raciocínio.
- Você é um artista, Mig! - trovejou ela - Cheguei a acreditar!
Que voz: setenta e oito rotações. Um soco no tímpano. Dona Maria, lá embaixo, tossiu.
- Pois acredite, baby, você me pira - falei meloso, humilde, sorrateiro.
Deu certo. Fez beicinho, olhou marota. Passou o dedo nos pelinhos do bigode. De um lado a outro. Agredi:
- Todo esse rabão! - não me aguentei. Eu sou assim, impulsivo, bagaço.
Não disse nada. Mediu-se com os olhos. Tinha classe. Rocei meu pé no dela: a vida me sorriu. Eu sou feliz, babaca. Me contento com pouco.
- Tira o coturno! - ordenei.
A situação exigia um macho. Sou vivo, atilado, perspicaz. Nunca erro o ponto do bolo.
Tirou. Baita pezão: branquinho, largo, delicado. Pena o chulé! Larguei de mão.
- Tem um trago aí? - roncou.
Ouvi Dona Maria chiar:
- Mas será o pé do Benedito? - lá do térreo, nem tinha visto pé da Shirlei.
Fiz-me de tonto. Ainda bem que a Shirlei não ouviu. Podia azarar o lance. Continuei:
- Suco de minhápica ou licor de tuabuçá?
Sou antigo, ousado, bobo. Com raro brilho. E ofereci o canudo. Tirei de dentro do roupão, é claro. Me abro para mim: eu sou um troço. Quase dois. Ela topou. Estendeu o copo e disse:
- Pode encher com o suco.
A voz ricocheteou na parede e o prédio tremeu.
Dona Maria estava foda. Lascou um já se viu?, bem alto. Era para ouvir. Despejei o cinzeiro pela janela. Sei tratar meu semelhante, agora ela se entretem limpando. Voltei-me para Shirlei. A mão estendida segurava o copo. Ela ria, zombava. Logo comigo. Aceitei a derrota:
- Ok, baby, vamos para a cama.
Ergueu-me no colo. Com a outra mão foi se pelando. Tirou até o ceroulão. Gosto disso: mulheres fortes, decididas, sem pode-ser ou daqui-a-pouco. Passei o dedão nas tetas dela. Tesão de bico. Legal a cosquinha dos cabelos em volta do mamilo. Mordi a clavícula. Lambi a orelha dela até encontrar o palheiro. Gosto disso: naturismo, rusticidade. Atirou-me na cama. Afastou a borda da calcinha e berrou:
- Crava!
Rachou o espelhinho atrás da porta. Que matão! Eu me fui.
- Não precisa - eu disse, bufando, suspirando, gozando. E me melei todo. Sou verdadeiramente rápido. Um jato russo. Com muita pressa.
- Porra! - berrou ela.
- Da pura! - respondi.
Tacou-me uns bifes. Dona Maria foi a salvação. Cravou o dedo na campainha. Adoro essa velha. Shirlei mandou deixar mas eu escapei. Sou mesmo ágil. Atendi o interfone:
- Que é? - fiz-me de rude, grosso.
- Essa barulheira... - guinchou Dona Maria.
Coitada, viúva de pouco. Uma brasa nas ternuras. Não aguenta o cheiro clorofínico do sexo.
- Não me interrompa, milady. Tou estrangulando a moça.

Fui delicado, mas firme. Sou sutil, troglodita. E a Shirlei acertou-me o sopapo. Rolei no chão. Nem dei tiau para a velha. A Shirlei também não. Até esqueceu dos coturnos. Adoro isso: paixão, desvario, checa peluda.

                                                                             - Miguel da Costa Franco -

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