Texto publicado no Pasquim Sul, em 13.08.87
Ela tinha um vozeirão.
Quando me disse oi, Dona maria fez shhh. Lá do térreo. Não liguei, conheço a
velha. Mas respondi baixinho:
- Entra! - bem baixinho.
- Tá rouco? - gritou ela.
- Não, baby, louco. Eu
estou é louco.
Falei babando, os olhos
em risco. As mãos cravadas no saco. Ela recuou mas riu. Eu relaxei. Conheço as
minas: essa estava no papo. Sou rápido. Muito rápido. Até no raciocínio.
- Você é um artista, Mig!
- trovejou ela - Cheguei a acreditar!
Que voz: setenta e oito
rotações. Um soco no tímpano. Dona Maria, lá embaixo, tossiu.
- Pois acredite, baby,
você me pira - falei meloso, humilde, sorrateiro.
Deu certo. Fez beicinho,
olhou marota. Passou o dedo nos pelinhos do bigode. De um lado a outro. Agredi:
- Todo esse rabão! - não
me aguentei. Eu sou assim, impulsivo, bagaço.
Não disse nada. Mediu-se
com os olhos. Tinha classe. Rocei meu pé no dela: a vida me sorriu. Eu sou
feliz, babaca. Me contento com pouco.
- Tira o coturno! -
ordenei.
A situação exigia um
macho. Sou vivo, atilado, perspicaz. Nunca erro o ponto do bolo.
Tirou. Baita pezão:
branquinho, largo, delicado. Pena o chulé! Larguei de mão.
- Tem um trago aí? -
roncou.
Ouvi Dona Maria chiar:
- Mas será o pé do
Benedito? - lá do térreo, nem tinha visto pé da Shirlei.
Fiz-me de tonto. Ainda
bem que a Shirlei não ouviu. Podia azarar o lance. Continuei:
- Suco de minhápica ou
licor de tuabuçá?
Sou antigo, ousado, bobo.
Com raro brilho. E ofereci o canudo. Tirei de dentro do roupão, é claro. Me
abro para mim: eu sou um troço. Quase dois. Ela topou. Estendeu o copo e disse:
- Pode encher com o suco.
A voz ricocheteou na
parede e o prédio tremeu.
Dona Maria estava foda.
Lascou um já se viu?, bem alto. Era para ouvir. Despejei o cinzeiro pela
janela. Sei tratar meu semelhante, agora ela se entretem limpando. Voltei-me
para Shirlei. A mão estendida segurava o copo. Ela ria, zombava. Logo comigo.
Aceitei a derrota:
- Ok, baby, vamos para a
cama.
Ergueu-me no colo. Com a
outra mão foi se pelando. Tirou até o ceroulão. Gosto disso: mulheres fortes,
decididas, sem pode-ser ou daqui-a-pouco. Passei o dedão nas tetas dela. Tesão
de bico. Legal a cosquinha dos cabelos em volta do mamilo. Mordi a clavícula.
Lambi a orelha dela até encontrar o palheiro. Gosto disso: naturismo,
rusticidade. Atirou-me na cama. Afastou a borda da calcinha e berrou:
- Crava!
Rachou o espelhinho atrás
da porta. Que matão! Eu me fui.
- Não precisa - eu disse,
bufando, suspirando, gozando. E me melei todo. Sou verdadeiramente rápido. Um
jato russo. Com muita pressa.
- Porra! - berrou ela.
- Da pura! - respondi.
Tacou-me uns bifes. Dona
Maria foi a salvação. Cravou o dedo na campainha. Adoro essa velha. Shirlei
mandou deixar mas eu escapei. Sou mesmo ágil. Atendi o interfone:
- Que é? - fiz-me de
rude, grosso.
- Essa barulheira... -
guinchou Dona Maria.
Coitada, viúva de pouco.
Uma brasa nas ternuras. Não aguenta o cheiro clorofínico do sexo.
- Não me interrompa,
milady. Tou estrangulando a moça.
Fui delicado, mas firme.
Sou sutil, troglodita. E a Shirlei acertou-me o sopapo. Rolei no chão. Nem dei
tiau para a velha. A Shirlei também não. Até esqueceu dos coturnos. Adoro isso:
paixão, desvario, checa peluda.
- Miguel da Costa Franco -
- Miguel da Costa Franco -
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