O cara dizer-se imbrochável mexeu com meus brios. Com meus culhões. Com minha gelatinosa virilidade anciã.
Mal sabe que, com isso, reforçou a inimizade mortal com o atrevido
e temível EKVCCdeLN (Exército Kurt Vonnegut Candy Crush de Libertação Nacional).
Pelo menos com a metade mais maleável dele, embora seja sabido que a outra
metade das tropas revolucionárias também sofra do mesmo mal. Às vezes, pelo
menos. Por aqui, somos todos humanos.
No nosso pequeno e brioso exército, sabemos que tudo no mundo
é contemporizável, se houver compreensão e respeito mútuo. E um envelope de
pastilhas de tadalafila ou Viagra na mesa de cabeceira, compradas do próprio bolso,
ao contrário do que sucede com todo o generalato nacional que dá apoio ao
energúmeno.
Por isso lanço esse manifesto essencialmente masculino. Perdoe-me
a outra parcela da humanidade, cada vez mais empoderada e estridente, mas este
assunto – pelo menos este assunto! – diz respeito apenas a nós e à nossa cavernosa
carne. Num primeiro momento, é claro. Saibam que seremos sempre parceiros, ou,
ao menos, tentaremos.
Ao contrário da intolerância de muitos movimentos feministas que desdenham da simpatia e do apoio masculino para suas causas, nós do Eu bro aceitamos – rogamos, imploramos, clamamos por – adesões e solidariedade dos nossos parceiros sexuais, entre as quais, majoritariamente, estão as mulheres. Em vocês, mulheres compreensivas e valorosas, nos espelhamos nessa hora triste, em que somos obrigados a lançar nosso próprio Me too invertido. O mundo é assim, masculino e feminino, yin e yang, com todas suas variantes coloridas. E +.
Atendendo as recomendações de nossa assessoria de marketing,
formada na Escola Técnica de Boleadeiras, Marqueteio e Tiro de Laço de Sertão
Santana, optamos por uma logomarca que traz elementos simbólicos expressivos
como a sinuosa cobra farmacológica, mais dedos angulosos e uma língua comprida,
atlética e afetuosa, esta já mundializada pelos nossos associados integrantes dos
Rolling Stones (vão dizer que o Keith
Richards e o Mick Jagger, não?).
Acima da logomarca, a legenda emblemática e afirmativa: Eu bro. Entre lacinhos de fita branca
simbolizando a sinceridade conjugal.
A paz sincericida, enfim.
Além de contemplar o epíteto destemido de nossa causa maior, estes
signos insinuam habilidades outras, além de muita irmandade e parceria – somos brothers in arms –, traduzindo uma
pluralidade não maniqueísta, vulgar e torpe como a do camarada que proferiu a
suprema mentira em discurso nacional.
Suprema mentira, sim, meu povo.
Nessa causa, somos todos brothers,
embora sejamos tíbios, fracos, assustadiços em admitir. Isso é fruto de uma
educação machista, em visível desgaste. O passar dos anos – por mera coincidência,
é claro – nos torna, nesse quesito específico, mais corajosos, mais honestos e
mais bro, se é que me entendem.
O importante, meus irmãos, é não nos deixarmos achincalhar
por um mentiroso vulgar. Um tipo grosseiro e mal educado, que busca no sorriso
amarelo de sua esposinha submissa, assustada e afeita a enxergar demônios sob (ou
sobre) a cama, a confirmação para um discurso esdrúxulo e desumano. Quer alçar
à condição de um mito, um semideus – descobridor da vacina infalível contra a disfunção
erétil – um machão boboca que, provavelmente, se criou fazendo meia com os amigos
no vale do Paraíba do Sul. Um medroso que inventa atentados para fugir dos embates
decisivos, que se vale dos moirões para poder pular a cerca, que busca energias
extras em latas de leite condensado para fazer jus à pecha de bom marido.
Estou certo de que, ao invés de aproximá-lo de eventuais parceiras
ou parceiros interessados em conferir a envergadura presidencial, o discurso
ridículo inverteu o curso das coisas e permitiu que todos nos engajássemos numa
cruzada afirmativa, simpática e libertadora – a essência dos atos terroristas
do já conhecido EKVCCdeLN.
Está lançado o movimento Eu
bro. Nosso Me too invertido.
Que os homens de coragem nos abracem e inflem (cappicce?) nossas fileiras, como se
fossem doses duplas do azulzinho,
anunciando para o mundo também o seu brado solidário e corajoso: Eu bro.
Os mais tímidos ou sestrosos, ciosos de uma imagem pública
menos flexível, podem agregar um parcimonioso às vezes ao seu grito retumbante. A tolerância nos une.
Diante desse tipo escroto, bastião da masculinidade tóxica, eu
– orgulhoso de minha honesta falibilidade –, grito bem alto: eu bro.
Sim, eu bro. Eu bro. Eu
bro.
Que o 7 de setembro, do quase-golpe, se converta a partir de
2022 no Dia Nacional do Quase. Aqui entre nós, o Dia Nacional do Orgulho Bro.
Será a demonstração mais firme (ops, vou procurar adjetivo
melhor!) da nossa independência viril. Ou quase. Adoro a palavra quase.
Obs.: Se quiser entrar para as fileiras do EKVCCdeLN, leia: Manifesto do EKVCCdeLN .
- Miguel da Costa Franco -
Muito bom, adesões ao movimento, pá cima com a viga, moçada. Às vezes.
ResponderExcluirJá somos dois, logo seremos milhões.
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