domingo, 11 de setembro de 2022

Eu bro


O cara dizer-se imbrochável mexeu com meus brios. Com meus culhões. Com minha gelatinosa virilidade anciã.

Mal sabe que, com isso, reforçou a inimizade mortal com o atrevido e temível EKVCCdeLN (Exército Kurt Vonnegut Candy Crush de Libertação Nacional). Pelo menos com a metade mais maleável dele, embora seja sabido que a outra metade das tropas revolucionárias também sofra do mesmo mal. Às vezes, pelo menos. Por aqui, somos todos humanos.  

No nosso pequeno e brioso exército, sabemos que tudo no mundo é contemporizável, se houver compreensão e respeito mútuo. E um envelope de pastilhas de tadalafila ou Viagra na mesa de cabeceira, compradas do próprio bolso, ao contrário do que sucede com todo o generalato nacional que dá apoio ao energúmeno.

Por isso lanço esse manifesto essencialmente masculino. Perdoe-me a outra parcela da humanidade, cada vez mais empoderada e estridente, mas este assunto – pelo menos este assunto! – diz respeito apenas a nós e à nossa cavernosa carne. Num primeiro momento, é claro. Saibam que seremos sempre parceiros, ou, ao menos, tentaremos.

Ao contrário da intolerância de muitos movimentos feministas que desdenham da simpatia e do apoio masculino para suas causas, nós do Eu bro aceitamos – rogamos, imploramos, clamamos por – adesões e solidariedade dos nossos parceiros sexuais, entre as quais, majoritariamente, estão as mulheres. Em vocês, mulheres compreensivas e valorosas, nos espelhamos nessa hora triste,  em que somos obrigados a lançar nosso próprio Me too invertido. O mundo é assim, masculino e feminino, yin e yang, com todas suas variantes coloridas. E +.

Atendendo as recomendações de nossa assessoria de marketing, formada na Escola Técnica de Boleadeiras, Marqueteio e Tiro de Laço de Sertão Santana, optamos por uma logomarca que traz elementos simbólicos expressivos como a sinuosa cobra farmacológica, mais dedos angulosos e uma língua comprida, atlética e afetuosa, esta já mundializada pelos nossos associados integrantes dos Rolling Stones (vão dizer que o Keith Richards e o Mick Jagger, não?).

Acima da logomarca, a legenda emblemática e afirmativa: Eu bro. Entre lacinhos de fita branca simbolizando a sinceridade conjugal. A paz sincericida, enfim.

Além de contemplar o epíteto destemido de nossa causa maior, estes signos insinuam habilidades outras, além de muita irmandade e parceria – somos brothers in arms –, traduzindo uma pluralidade não maniqueísta, vulgar e torpe como a do camarada que proferiu a suprema mentira em discurso nacional.

Suprema mentira, sim, meu povo.

Nessa causa, somos todos brothers, embora sejamos tíbios, fracos, assustadiços em admitir. Isso é fruto de uma educação machista, em visível desgaste. O passar dos anos – por mera coincidência, é claro – nos torna, nesse quesito específico, mais corajosos, mais honestos e mais bro, se é que me entendem.

O importante, meus irmãos, é não nos deixarmos achincalhar por um mentiroso vulgar. Um tipo grosseiro e mal educado, que busca no sorriso amarelo de sua esposinha submissa, assustada e afeita a enxergar demônios sob (ou sobre) a cama, a confirmação para um discurso esdrúxulo e desumano. Quer alçar à condição de um mito, um semideus – descobridor da vacina infalível contra a disfunção erétil – um machão boboca que, provavelmente, se criou fazendo meia com os amigos no vale do Paraíba do Sul. Um medroso que inventa atentados para fugir dos embates decisivos, que se vale dos moirões para poder pular a cerca, que busca energias extras em latas de leite condensado para fazer jus à pecha de bom marido.

Estou certo de que, ao invés de aproximá-lo de eventuais parceiras ou parceiros interessados em conferir a envergadura presidencial, o discurso ridículo inverteu o curso das coisas e permitiu que todos nos engajássemos numa cruzada afirmativa, simpática e libertadora – a essência dos atos terroristas do já conhecido EKVCCdeLN.

Está lançado o movimento Eu bro. Nosso Me too invertido.

Que os homens de coragem nos abracem e inflem (cappicce?) nossas fileiras, como se fossem doses duplas do azulzinho, anunciando para o mundo também o seu brado solidário e corajoso: Eu bro.

Os mais tímidos ou sestrosos, ciosos de uma imagem pública menos flexível, podem agregar um parcimonioso às vezes ao seu grito retumbante. A tolerância nos une.

Diante desse tipo escroto, bastião da masculinidade tóxica, eu – orgulhoso de minha honesta falibilidade –, grito bem alto: eu bro.

Sim, eu bro.  Eu bro. Eu bro.

Que o 7 de setembro, do quase-golpe, se converta a partir de 2022 no Dia Nacional do Quase. Aqui entre nós, o Dia Nacional do Orgulho Bro.

Será a demonstração mais firme (ops, vou procurar adjetivo melhor!) da nossa independência viril. Ou quase. Adoro a palavra quase.

 

Obs.: Se quiser entrar para as fileiras do EKVCCdeLN, leia: Manifesto do EKVCCdeLN .


- Miguel da Costa Franco -

Um comentário:

  1. Muito bom, adesões ao movimento, pá cima com a viga, moçada. Às vezes.

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