Há
uma certa candura nesse teu
olhar,
um prazer assustado
e
abrasivo no cruzar da tua mirada.
Há um
brilho honestamente intenso.
E a
palavra dita, que ao contexto
avesso,
soma idéias recolhidas
em
outros cantos da memória.
Há o
toque sutil, mas permissivo,
a mão
que alterna polidez
e
ternura incidental. Há a voz,
tua
firme voz sonora e densa,
navalha
cortante, doçura
e
maciez...
Sinais,
pequenos
sinais que se repetem
fazendo
coro ao meu desejo
tão
inusitado. Antes não saber-te
tão
viva e alcançável.
Tão
pura e tão intensa.
Resgato
em minha solidão
desértica
o desejo de lançar
meus
lábios nessa boca
longínqua,
alerta e cálida.
Mas não
ouso me fazer ouvir
pois
que toda saudade irrefletida
tem
lá suas inconveniências.
No
grosso calor do norte,
teus
olhos brotam do rio
que
me entorpece a cada
curva
mansa e corrediça.
No
escuro do meu quarto,
o
cheiro dos teus cabelos
escorridos
pela chuva
não
acontecida, é vivo
como
a noite a se esvair
pelo
escuro das arcadas.
Lembro
dos sinais, outra vez,
da
casa para a qual
me
convidaste sem saber,
do
passeio planejado sem querer,
do
teu brilho pessoal
soberbamente
vívido.
Me
encanta a intensidade das trocas
que
tivemos em tão curto passadiço,
num
tempo que não era nosso.
E nem
seria. Pulsa em mim
um
amor impune e vasto,
um
amor que não revela
a
tempestade dos seus silêncios,
audaz
e incontido.
Faríamos
bem ao outro,
como
à flor a borboleta
que a
corrompe de esperança,
e, em
troca, acende uma outra vida,
tão
breve quanto a que esperara.
Sonho
com teus sinais de ardor e luz
e te
imagino feliz em meus braços
que o
carinho ali ancorado
torna
doces como mangas.
Mas
dói saber que te verei
de
novo e mais uma vez
serás
então somente tua.
E os
tais sinais virarão pó
na
confusão amanhecida
do
meu sonho.
- Miguel da Costa Franco -
- Miguel da Costa Franco -
Muito lindo, Miguel. Mirita deve ter causado este impacto e imagino, está impactada até hoje pelo poema. Parabéns pelo blog. Vou colocar em favoritos. bj
ResponderExcluirVerdade, Clô. O poema ajudou a reverter expectativas e ainda hoje ajuda quando a coisa encrespa, hehehe. Beijo.
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