quinta-feira, 11 de junho de 2020

Beijo



Reconhecemo-nos:
nossos olhos,
doces magnetos.

Batedores ousados, teus dedos
Escalaram as sendas do meu peito,
invadiram a selva rasgada dos meus cabelos.

Capitã dos nossos desejos, salpicaste
luminescências sobre um corpo
sensível ao canto das sereias.

Estranhamente, o teu cheiro
não era de mar; tinha, sim,
um quê de jasmim-estrela.

Me entontecias.
Me afogavas.
Me puseste mareado.

Feixe de labaredas, a carne rubra,
arrulhaste impossibilidades
e promessas afobadas.

A dor difusa da incompletude
Invadiu-me o corpo,
lenta, vã, inexorável.

Tua boca era um vulcão aceso.
Minhas ânsias por ti,
me deixavam sem ar.

Trocamos um único beijo
antes de partires, longo,
ardoroso, promissor.

Infecto e mortal,
como vim a saber
depois.


   - Miguel da Costa Franco -


poema publicado no Não 84 (Não da Quarentena), de novembro de 2020

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